Suas pernas ágeis já não mais respondiam aos comandos do seu cérebro também exausto. O fuzil que já era pesado antes se tornava agora impossível de carregar. O que mais lhe incomodava era o barulho ensurdecedor de granadas, tiros, explosões.
Num momento, um jovem comum, cheio de futuros possíveis, perfeitamente imagináveis e calculados. Música ao rádio, sorrisos e beijos de bocas cada vez mais conhecidas. Meninas e meninos ao redor, carros e irresponsabilidade. Estava tudo certo até aquele dia que seria o dia maldito. Uma intimação selou seu destino traçado.
Já com a vista falhando e os joelhos arqueados, jogou-se ao buraco mais próximo que encontrou. Coberto de lama até as orelhas, tentava livrar a boca para respirar. Um jovem corpo, até pouco tempo vívido e falante, boiava ao seu lado imóvel e com os olhos escancarados. Nadou até uma vala rasa próxima, deitando-se sob os arbustos. Fechou os olhos e cobriu os ouvidos. Já havia vivido demais aquilo.
Morreram amigos, mataram seu futuro. Sua vontade e sua euforia foram dizimadas. Já não mais via nenhuma graça em ser jovem. Cantarolava Beatles em sua cabeça e transformou cada tiro em nota musical, cada explosão em compasso de bumbo, todo e qualquer movimento em dança.
Naquele buraco sujo, naquela poça de lama e sangue, o último a morrer foi o poeta.