domingo, 26 de outubro de 2008

Afônico

Se acha que conhece o sentido real desta palavra, saiba que podes estar equivocado. Acho até mesmo que “Aurélio, o grande” não saberia ser informal o suficiente para afirmar o real significado de palavra tão complexa quanto afônico.

Não é somente a ausência de som gerado pelas cordas vocais de um acometido de crise alérgica ou gripado. A falta de voz suficiente para ser ouvido e compreendido pode gerar outros sintomas e problemas para aquele que sofre com ela.

Imagine trabalhar em uma fábrica barulhenta, com protetores auriculares e com 99% de chance de não conseguir me comunicar, a não ser de forma escrita. Sério... perceba. É possível se dizer em gestos “estou com fome”... Entretanto fica impossível se dizer “Caralho, estou com muita fome. O pior é esse rango do refeitório, uma droga. Poderíamos pedir um xis hoje, pela tele-entrega... o que acha?”.

Num ambiente mais hostil, de competição, perde-se qualquer chance de sucesso. A voz do interlocutor é respeitada pelos demais, assim como a postura e a expressão facial. Entretanto, os últimos dois sem o advento do som são patéticos, desprezíveis na maioria das vezes. Existe ainda a imposição, tom e outras coisas mais...

Percebi com o fato de estar afônico que muitas coisas importantes me são deixadas de lado, como o direito de reclamar às vezes ou de impor minha vontade. A comunicação através da voz é excepcionalmente mais eficaz e melhor compreendida do que qualquer outra.

Sou afônico quando não reclamo o pastel frio. Sou afônico quando deixo de dizer o que penso. Sou afônico quando não faço outra coisa senão concordar.

Quando minha voz estiver de volta, vou utilizá-la muito melhor do que dantes desse acontecido.

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